sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Camisaria Moderna

Quem não se recorda da surpresa que constituía, para muitos, o cenário da Camisaria Moderna? A tal que vendia as célebres camisas que "não fazem pregas no peito nem rugas no colarinho". Era precisamente no interior da loja, no salão de atendimento ao público que existia um original viveiro de aves... o seu proprietário, o Sr. António Regojo Rodriguez,  justificava este viveiro do seguinte modo:
Aspecto do interior da Camisaria Moderna com as aves à solta




O Sr. António Regojo Rodri-
guez, proprietário da
Camisaria Moderna
- " Há aproximadamente um ano (1952) que um pintassilgo ferido procurou refúgio no meu estabelecimento. Sentiu-se bem e decidiu ficar e a docilidade da sua permanência fez-me pensar na possibilidade de manter um viveiro de pássaros em liberdade no interior da minha loja. E o que pensei aconteceu... claro que não os soltei aqui dentro todos de uma só vez!"

"Primeiramente, a medo, soltei meia dúzia. verificando que, conquanto existisse natural perturbação, as aves não tentavam fugir e isso animou-me a, progressivamente, ir aumentando o seu número. E acabei por ficar com cinquenta! Mandei construir bebedouros, baloiços, poleiros e uma pequena árvore, não lhes faltando com nada para o seu bem-estar."


"Fugirem? Como a porta se encontra num plano inferior ao dos poleiros, calculei não ser muito fácil que tal acontecesse, pelo menos nos primeiros tempos encontra-la, e, quando conheceram o caminho da porta, curiosamente lembravam-se dela para regressarem... evidentemente que os meus pássaros não desdenham uns passeiozitos pelo mundo dos outros mas... voltam sempre depois."
Bebedouros, poleiros, baloiços e até uma pequena árvore...

O Sr. Regojo, sorrindo, acrescentava ainda:

-"Fiz com os meus alegres pensionistas um contrato simbólico. Dou-lhes casa e mesa para que me dêem uma nota colorida ao ambiente com uma condição expressa. Que não me "desconsiderem" os clientes e, até hoje, têm cumprido a promessa..."

Aqui as aves vivem felizes num ambiente de que já não se podem afastar























As avezitas voando de um lado para o outro...

Das muitas vezes que lá fui com os meus pais, ainda criança, lembro-me perfeitamente das avezitas, escolhidas entre os de mais belas e variadas cores, a chilrearem alegremente, voando de um lado para o outro; e sempre que ia à Baixa, lá corria eu para ir espreitar os passarinhos da loja do Sr. Regojo! Bons tempos aqueles...





In: Século Ilustrado de Dezembro de 1953 (colecção particular)
Coordenação da entrevista e das fotos: marr