quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Fábrica de Lâmpadas Lumiar - Foi Notícia em Setembro de 1933...

A LUMINOSA REALIDADE 
DAS 
LÂMPADAS LUMIAR

Colocação de suportes e montagem do filamento


A Empresa Nacional de Aparelhagem Eléctrica inaugurou há dias, oficialmente, a sua fábrica de lâmpadas eléctricas «LUMIAR». Finalmente possuímos já uma fábrica de lâmpadas eléctricas, justa aspiração de tantos anos.

Uma nova indústria surge e vem uma vez mais demonstrar que Portugal caminha, para a sua equiparação aos grandes países.

Secção de fotometria

O edifício em questão ocupa a área de 5000m2, em 3 amplos andares, 110 operários, espalhados por diversas secções apetrechadas com a mais moderna maquinaria, fabricam sob o mais rigoroso controlo e processos científicos perfeitíssimos milhares de lâmpadas em todos os tipo usuais para todas as potencias.
Máquina de corte do gargalo das ampôlas

A capacidade fabril actual, é de 8000 lâmpadas diárias. O cristal é ali produzido, o que sucede em muito poucas fábricas congéneres, em fornos aquecidos a óleos pesados, merecendo especial referência o perfeito processo de moldes mecânicos onde é moldada a ampola - uma inovação no nosso País. Toda a lâmpada «LUMIAR» é inteiramente fabricada ali, excepção feita ao filamento e casquilho.
Os potes de fecho e de enchimento

Todas as secções requerem do pessoal extrema precisão e atento cuidado, sendo de justiça, pôr em relevo a admirável adaptação do operariado, que duma forma rápida executa as diversas operações - algumas de extrema delicadeza - com o maior desembaraço.

Fabrico do pé das lâmpadas
A lâmpada «LUMIAR» rivaliza com as melhores congéneres estrangeiras, e para que a nossa preferência lhe seja dada, impondo-se à admiração de todos, está também o nosso carinho por tudo quanto é nosso, tudo quanto é português.



Preferir a lâmpada «LUMIAR» é além duma justiça recta, combater o snobismo irritante da preferência pelos produtos estrangeiros.

In: Notícias Ilustrado de Setembro de 1933 (Colecção particular)
Coordenação do texto e das fotos: marr

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Moçambique - "Pepito" - Um palhaço esquecido

Tem igualmente este "blog", como um dos seus objectivos, recordar e fazer avivar figuras que fizeram parte do nosso património cultural e que hoje estão totalmente esquecidas, por todos nós, ou trazê-las ao conhecimento das actuais gerações.

Prestamos assim, embora tardiamente, homenagem a todas essas personalidades que, de um ou de outro modo, se destacaram no seu tempo dentro das suas actividades profissionais.
marr

Lourenço Marques - Moçambique c.1967
(Colecção particular)


Recordar "Pepito" não o fará voltar ao nossos convívio, contudo é obrigação de, pelo menos duas gerações, o recordarem em Lourenço Marques, Moçambique.

Delfim de Oliveira Rodrigues foi seu colega, fez dupla com "Pepito" e ambos fizeram rir milhares de pessoas, concedeu uma entrevista em 1971, onde nomeadamente afirmou:

«Falar sobre a vida de José Pereira da Silva Júnior, o conhecido palhaço "Pepito", seria um livro bastante volumoso, mesmo só falando daqui, de Moçambique, onde se radicou. Para aqui veio por alturas de 1942, na Companhia do falecido Octávio de Matos, quando esse artista veio a esta cidade, como ilusionista, apresentar o grande espectáculo "Ling-Chong".

Desligou-se da Companhia aqui se fixou e se casou, tendo-lhe nascido um casal. A filha, a então conhecida "Belita", que bastantes vezes actuou em conjunto connosco, era uma artista que, embora ensinada só pelo pai, chegou a ser bastante admirada e elogiada por outros artistas estrangeiros que tinham ocasião de nos ver trabalhar.

Só com o rodar dos anos me associei a "Pepito", pois anteriormente ele fazia parceria com outro rapaz que, devido aos seus inúmeros deveres profissionais, o teve que largar. Associei-me a ele, como disse, até à data do seu falecimento, ocorrido na tarde de 28 de Julho de 1967.

"Pepito" (ao meio) numa avenida de Lourenço Marques - Moçambique
(In: Plateia (Colecção particular)

Só de lamentar que um artista como foi este, consciencioso da sua profissão e muitíssimo meticuloso no que gostava de apresentar ao público, mesmo com prejuízo pessoal - pois que só da arte viveu no rodar desses anos todos - é de lamentar que nunca lhe pagassem o que merecia. Apenas uns míseros "cachets" surgiam daqui ou dali (e sempre discutidos!).

É de lamentar que um artista como foi este colega, que sempre acedia a convites para este ou aquele espectáculo, trabalhasse em toda a cidade - pois viu duas gerações rirem-se das coisas que se faziam para rir, o que é mesmo muito difícil e às vezes Deus sabe como é amargo estar nos locais onde nos apresentamos - insisto, é de lamentar que toda a gente se esquecesse da pessoa que nunca sabia dizer não, a ponto de várias vezes nos aborrecermos mesmo, por aceitar certas propostas...Depois, nem ao menos obrigado nos diziam no final do "show", se queríamos um refresco, era do nosso bolso que saía o pagamento...

No entanto tudo já passou... menos o nome do artista que faleceu a 28 de Julho de 1967!

Agora pergunto eu:
- O que há e em que lugar se fez, o que quer que fosse que recorde um amigo dessas gerações, hoje papás, mamãs e até avós, para que possam dizer aos seus quem foi aquele homem que tanto os divertiu?

Houve uma subscrição pública, para se mandar fazer um busto dele e colocá-lo no Parque Infantil do Jardim Zoológico de Lourenço Marques, a perpetuar aquele que fez rir e divertir muita gente.

Mas em que ficou tudo isso? Onde estão os resultados? Chegou ou não para o fim em vista? Ninguém sabe...

É de lamentar que nem ao menos a sua fria campa se encontre arranjada. Quem passe pelo cemitério e queira saber onde é o seu leito eterno, para assim nele colocar algumas flores e mesmo em silêncio rezar por ele, tem de se dirigir ao encarregado, pois que é um montinho de terra que para ali está. E nada mais justifica a presença daquele que também ajudou Lourenço Marques, a terra que tanto o fascinou a ficar por cá...e onde ficou afinal para todo o sempre!»

In: "Plateia" de Agosto de 1971 (colecção particular)
Coordenação do texto: marr

domingo, 1 de setembro de 2013

Recordações das nossas praias...

OS NEGOCIANTES
DA
PRAIA
O sorvete caseiro (Colecção particular)

O fotografo "à lá minute"
(Colecção particular)
Nas praias, enquanto se tomam banhos de mar e de sol, e se exibe naturalmente os sorrisos e a plástica, havia e há pessoas que, sob o mesmo sol abrasador, faziam e fazem o seu negócio tirando, do veraneio dos outros, o máximo proveito

Os comerciantes da praia, faziam já parte da família, que se acomodava, todo o dia, sob um minúsculo toldo, muito convencida de que estava protegida do sol. Todos os conheciam. Olhavam-nos, as crianças com carinho e desejo, as mulheres com curiosidade, e os homens com terror - porque eram eles que geralmente pagavam...


O "barquilheiro" (Colecção particular)


O "barquilheiro" era o croupier da praia. e até alguns adultos, velhos frequentadores de batotas que fecharam, experimentavam  com cinco tostões, a sua sorte de momento...

E as mulheres dos sorvetes, os fotógrafos ambulantes, o rapaz das sanduiches, o vendedor dos bolos, todos faziam negócio.






Sandes embrulhadas e higiénicas
(Colecção particular)




O único inimigo destes negociantes das praias, era o fato de banho. É que ele raramente tinha algibeiras, o que ocasionava que muita gente não comprasse... por não ter o dinheiro ali à mão...









Bolos e pãozinhos com chouriço
(Colecção particular)



Mesmo assim, era um belo negócio o destes comerciantes modestos, porque nesse tempo não pagavam licença de porta aberta, não existia a "ASAE", os clientes não contraiam doenças nem alergias por falta de higiene e afins, tudo estava "dentro do prazo" o organismo criava as suas auto-defesas. E já a os nossos avós afirmavam:
- «o que não mata, engorda!» 

Bons tempos aqueles...





Texto e ilustrações: marr