domingo, 24 de março de 2013

Canícula em Lisboa

AS BARCAS DE BANHOS

Os banhos de mar tomavam-se apenas como tratamento prescrito pelos médicos e era na Fundição ou na Praia de Santos que de manhã se ia mergulhar na lama ou na água suja de toda a imundície que naqueles locais se despejava.

Mais tarde, apareceram as Barcas de Banhos com os pomposos nomes de "Deusa dos Mares", "Flor da Praia", etc.. Como essas barcas estavam amarradas à terra, ou ancoradas muito próximo, as águas eram iguais e ainda por cima o banho tomava-se dentro de verdadeiras gaiolas; mas, por muito tempo, foi moda "ir às barcas" que além do mais serviam para o cultivo do namoro...

Mal se entrava no Verão encontravam-se atracadas no rio as célebres "Barcas de Banhos", para ser mais preciso, no cais de Santos, na margem do Tejo, pouco mais ou menos onde hoje fica a estação da linha de Cascais. Assim que a canícula se tornava insuportável o alfacinha ocorria às Barcas; efectivamente os lisboetas não eram muito dados a idas à praia, porque os transportes eram caros e escassos e quanto muito ia-se até Belém ou Pedrouços. Equivaleriam hoje as "Barcas de Banhos" às nossas actuais praias.


Barca fundeada perto do cais
Colecção particular

Três delas, encontravam-se atracadas perto uma das outras, sendo a primeira, a contar do Cais de Sodré para o Terreiro do Paço, a «Lisbonense» pintada de negro com vivos brancos; seguindo-se a «Vinte e Quatro de Julho» pintada de azul e a terceira, a «Feliz Destino» toda de verde. A primeira era frequentada por gente do povo, a outra pelos remediados e a terceira pelos de mais posses.

Mas, a meio do rio, mesmo em frente ao Terreiro do Paço, fundeava mais uma que se chamava «Deusa dos Mares» e que se destinava aos mais abastados, onde inclusivamente se ensinava natação. Era esta uma barca ou casco muito grande e com uma história curiosa, que contarei um pouco mais abaixo; acrescia ao preço do banho o transporte em catraio a partir do Cais das Colunas. Acontecia que os banhos ali tomados tinham a vantagem
de a água ter maior corrente, ser mais transparente e menos vasa, o que não sucedia com os utentes das outras que estavam atracadas na margem ou muito perto dela.

Sensivelmente entre o ano de 1872 e o de 1874 as condições da água do rio devem-se ter alterado, assim como as instalações da barca se devem ter deteriorado, talvez por falta de manutenção, assunto esse que foi remediado dando origem a um curioso anúncio publicado no Diário Ilustrado de Agosto de 1874, que diz o seguinte:

BARCA    DE    BANHOS
DEUSA DOS MARES
" Esta barca acha-se fundeada defronte do Arsenal da Marinha, no local, onde a corrente da água é puríssima, mesmo na baixa-mar, por estar convenientemente afastada da canalização dos despejos da cidade. Depois dos melhoramentos que a empresa, como costuma, realizou este ano, foi a Barca vistoriada pelos peritos do Arsenal da Marinha, em virtude do que o Ilm.º e Exm.º Sr. Capitão do Porto deu o seguinte despacho ao requerimentos que nessa ocasião se fez. 

Tendo-se passado vistoria e sendo esta de parecer que a barca se acha em boas condições, para o serviço a que é destinada, concedo a licença pedida para vir para a sua amarração. - Departamento do Centro, 26 de Julho de 1874.- Kol.

A publicação deste despacho garantiu a solidez das obras realizadas
e desvanece quaisquer dúvidas, que por ventura houvessem a tal respeito. A boa ordem, asseio e comodidade são rigorosamente observados, como convêm em estabelecimento de tal ordem.

PREÇOS: Primeiro banho de proa, $120 réis; Banho de proa, $100; Banho de chuva, $160; Banho reservado, $200; Banho grande, $120; Banho de ré, $080; Banho geral, $060.

Observação: O banho geral para homens corre em volta da popa da barca e mede 102 pés, sendo por tal motivo apropriado para o exercício de natação, sem que haja perigo. A bordo alugam-se roupas, assim como se ministram banhos mornos. No Terreiro do Paço, encontram as pessoas que quiserem frequentar a barca, botes sólidos e expressamente construídos para o serviço de conduzir a bordo."

As barcas menores tinham a forma de uma pequena vivenda de madeira, construídas sobre enormes faluas, para as quais se entrava por meio de um pontão que vinha da embarcação para o cais, onde se vendiam os bilhetes e alugavam os lençóis, os fatos de banho e as bóias, porque quem sabia nadar tinha autorização para se banhar, fora das gaiolas reservadas aos banhistas, em volta da construção.

Barca menor ligada por um pontão ao cais
Colecção particular
O preço do banho variava conforme os lados de bombordo ou estibordo, ou segundo os quartos com poços especiais, onde podia cada qual despir-se; à ré, encontrava-se o "banho geral", onde os utentes se agarravam a uma corda, que um marítimo experiente vigiava, banho este que se pagava com um pataco.

A BARCA "DEUSA DOS MARES"
Tem esta barca uma história curiosa e digna de menção. Pertenceu outrora à praça de Lisboa e fazia a carreira da Índia debaixo do nome «Maia Cardoso». Mais tarde, foi armada em vaso de guerra, e por esse motivo mudou de feição e de nome. Passou a chamar-se «Trovoada» e assistiu impassível, no alto mar, à desencadeada luta dos elementos, pois era feita de teca e da melhor construção, prestando serviços à armada e ganhando mais um título à estima pública.

Seguiram-se os anos e o vaso de guerra voltou ao Tejo. Cansado já da glória, e depois de se ter tornado útil ao comércio e à marinha, desarmou-se dos apetrechos bélicos, e ataviou-se elegantemente como "Barca de Banhos", e hoje mais do que nunca se acha bem conceituada, porque tem ido de melhoramento em melhoramento, a ponto da barca conter agora 31 banhos a estibordo e bombordo, sendo estes divididos em banhos diferentes, como por exemplo: 4 banhos de chuva, 2 reservados e 3 grandes, havendo a facilidade de reunir 3 banhos num só, quando se dá o caso da família ser numerosa. Como se todos estes atractivos não fossem bastantes, tem mais 2 magníficos banhos gerais com o comprimento de 102 pés ingleses, e a conveniência de servir um dos banhos de escola de natação, descobrindo-se metade, e tornando-se por tanto muito mais claro do que os outros. Davam-se, também  banhos quentes em tinas e igualmente mornos de chuva.

Colecção particular
O que sobretudo demonstrava claramente a excelência desta barca era o estar colocada na corrente da água e os banhos de proa serem "tão fortes e cristalinos como o das praias". A bordo, ainda havia um "bufete", onde os banhistas encontravam sempre um bom serviço e preços acessíveis.

Havia sempre à disposição dos frequentadores da "Deusa dos Mares" 3 botes no cais do Terreiro do Paço e 2 no Cais do Sodré. Em remate direi que a barca media da proa à popa 156 pés ingleses e 61 de boca, sendo por conseguinte a maior embarcação, ao seu tempo, surta no Tejo.


COMO ERAM AS BARCAS DE BANHOS?

Nada como o Eng.º Vieira da Silva, que frequentou estas barcas em 1875, na companhia de sua mãe, para nos descrever que:

"Tratavam-se de velhos cascos de barcos que se adaptavam a essa nova aplicação. Para esse efeito, ao longo de uma coxia longitudinal de circulação no convés, adaptava-se, a cada um dos costados, de proa à popa, uma estrutura de madeira semelhante a uma longa caixa, com tecto, dividida interiormente por tábuas transversais em celas ou compartimentos, com uma porta para o convés na parede anterior. Constituíam essas celas as barracas, para os banhistas se vestirem e despirem.

Os compartimentos alongavam-se para fora do convés do barco, e as suas paredes laterais e as posteriores, que desciam vedadas até ao nível da água, prolongavam-se para baixo deste nível com a forma de gaiolas, com três das suas paredes feitas de grades de sarrafos, e com o fundo de tábuas de soalho, que ficava cerca de 1,30m abaixo do nível normal da água nos compartimentos.

Deste modo, cada barraca podia considerar-se formada por dois compartimentos sobrepostos: um aéreo, com o pavimento ou estrado a nível do convés, no qual os banhistas se preparavam para o banho; outro aquático ou submerso, ou poço onde se tomava banho, limitado pelo gradeamento de sarrafos e pelo costado do barco.

Como os barcas estavam fundeadas, a água corrente do rio atravessavam os diversos compartimentos, pelos intervalos das grades de madeira o que proporcionava aos banhistas água corrente, com alguns encontros inesperados com peixes, alforrecas e uma ou outra imundície que vagueava pelo rio"...

Coorden. dos diversos textos e imagens: marr

sábado, 9 de março de 2013

Funerais Reais em 1908

FUNERAIS DE EL-REI D. CARLOS
 E DO 
PRÍNCIPE REAL D. LUÍS FILIPE

Na capela do Paço das Necessidades


Arcebispo de Évora
Conde de Jimenez Y Molina, Conde de S. Luiz
e o Marquês de Guell











Embaixador da Bulgária e oficiais alemães do Regimento de que
El-Rei era Coronel Honorário

Oficiais da embaixada espanhola, que acompanhavam o Príncipe
Fernando da Baviera, representante do Rei de Espanha


Um dos coches passando no Aterro
O cortejo saindo das Necessidades




O cortejo passando no Terreiro do Paço


O coche conduzindo o cadáver do Príncipe













O coche conduzindo o cadáver do Rei














Um dos coches chegando a São Vicente


A missão francesa
Conde de Turim e o Príncipe de
Hohenzollern, primo de El-Rei D. Carlos








O coche conduzindo o cadáver do Soberano, chegando a São Vicente
Ilustrações e legendas: marr