domingo, 30 de junho de 2013

Real Fábrica das Sedas

Real Fábrica das Sedas, situada no início da Rua da Escola Politécnica em Lisboa
(Colecção particular)
A indústria da seda não foi certamente desconhecida em Portugal desde o início da nacionalidade, tanto mais que os muçulmanos tinham desenvolvido este sector têxtil, chegando a ser famosas as sedas do reino de Granada, exportadas para o nosso País. No entanto, sendo fora de dúvida que a nossa confecção de tecidos de seda foi um facto, não tendo atingido durante a Idade Média - e mesmo depois - uma importância comparável à do têxtil do linho e dos lanifícios. A produção, tecelagem e fabrico de diversos artigos de seda foi, tanto na época medieval como no período posterior ao século XV, uma actividade muito limitada e dispersa, tendo provavelmente na região de Bragança um dos seus centros principais.
Torno de torcedura. Gravura do século XVIII (Colecção particular)










No século XVIII, o Rei D. João V, por força do Alvará de 25 de Fevereiro de 1734 concede permissão, ao mestre tecelão francês Robert Godin, para o estabelecimento de um edifício para se fabricar diversos artefactos de seda (gorgolões, brocáreis, meias, galões, etc.). A autorização foi dada debaixo de vinte e três condições lavradas no Livro dos Contractos das Manufacturas do Reino.
Filatório. Gravura do século XVIII (Colecção particular)









Optou-se, então, pela construção de um edifício adequado aos diversos fabricos, centralizador da produção, no então subúrbio do Rato. Durante o período de 1734/1750, que foi liderado pela iniciativa privada, implantaram-se os primeiros noventa e um teares e organizou-se a manufactura e os diversos lavores da sua produção.

O falecimento do Rei D. João V, em 1750, e a sucessão de D. José I cria condições muito favoráveis à venda da Fábrica do Rato ao Estado, negócio proposto por Godin, que em parte era de seu interesse, dada a péssima administração porque passava a manufactura. Inicia-se, então, um período caracterizado pela administração por conta de Vasco Lourenço Velloso, em que a Fábrica das Sedas é pertença da Fazenda Real.
Filatório. Gravura do século XVIII (Colecção particular)










O Marquês de Pombal protegeu também esta indústria, e entre outras providências registam-se os regulamentos, privilégios e a instituição da Direcção Geral das Fábricas de Seda, graças às quais as regiões sercícolas lograram então pleno desenvolvimento. Trás-os-Montes, região sercícola por excelência, foi dotada com uma fábrica em Chacim e os filatórios em Lebução, Sanfins, Valpaços, Vilarelhos, etc.

Colecção particular
Colecção particular














Sebastião José de Carvalho e Melo, mandou imprimir e publicar os Estatutos da Real Fábrica das Sedas, estabelecida no subúrbio do Rato, como já tinha sido dito, com a data de 6 de Agosto de 1757, que é caracterizado pela criação de uma direcção administrativa por conta da Junta do Comércio, a quem competia eleger quatro directores, perfazendo a publicação dos Estatutos no próximo mês de Agosto 256 anos.
Edifício da Real Fábrica das Sedas em Lisboa na actualidade(Colecção particular)
Pesquisa,coordenação de diversos textos e ilustrações. marr 

sábado, 15 de junho de 2013

Foi notícia em Novembro de 1881...

O NOVO MINISTÉRIO PORTUGUÊS: António Maria Fontes Pereira de Melo; António de
Serpa Pimentel; José de Melo Gouveia; Tomás Ribeiro; Júlio Marques de Vilhena  e
Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro (Colecção particular)

In: "O Ocidente" n.º 165 de 21 de Novembro de 1881 (Colecção particular)
Pesquisa: marr 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Thilo Krassman

PEQUENO APONTAMENTO BIOGRÁFICO EM FORMA DE HOMENAGEM


George Thilo Krassman, natural de Bremen na Alemanha, nasceu no dia 16 de Abril de 1933, tinha dez anos quando a guerra desencadeada pelo seu País começou a afligir verdadeiramente toda a população alemã. Frequentou durante o ano de 1944 nada menos do que oito escolas, os professores partiam a reforçar as linhas defensivas, e os edifícios iam sofrendo uma destruição implacável com os bombardeamentos constantes.

Filho de um professor de música, Thilo viveu então aos cuidados de uma tia, e com ela aprendeu, à falta de professores, os rudimentos da língua alemã, da história, da geografia, das ciências naturais, etc.

Já então, porém, a música dominava todas as suas preocupações. Após a capitulação e a ocupação, Thilo não quis frequentar escolas, a não ser a de música. Matriculou-se no famosos Conservatório de Acordeões Honner e aqui, sob a orientação de seu pai, galgou rapidamente a escada do êxito.

Decorria o ano de 1957, quando a fábrica Honner enviou-o a Portugal como professor de acordeão, sem saber uma única palavra de português  tendo então começado a dar aulas na casa Machado Gouveia. Os primeiros tempos correm difíceis, poucas pessoas, por essa altura, dominavam o alemão - e era impossível tentar fazer amizades sem conhecer ninguém, sem dominar o português. Thilo conhece, nessa altura, uma sua compatriota - e casa-se com ela... É uma pausa na música consentida pelo amor, mas uma pausa somente, porque, para «desenrascar» a falta de um contrabaixo, Hélder Martins chama Thilo Krassman para o seu conjunto... e com ele parte para uma temporada em Moçambique.


No regresso, em 1962, forma o seu próprio conjunto - o «Thilo's Combo» (conjunto de Thilo à inglesa...» e é chamado para inaugurar uma nova boite, a "Ronda". A partir de então, Thilo ignora o que significa descanso. Para ele, a música não acaba senão às primeiras horas da manhã, e pela tarde, quando se levanta, tem de ir tratar de discos, novos números, orquestrações, acompanhar artistas em espectáculos especiais, ou em "matinés" dançantes em Faculdades, Associações, etc.

As suas deslocações sucedem-se- Ele e o seu conjunto estiveram no Ultramar, em Marrocos e nas principais cidades do País. Marcaram presença nas Queimas das Fitas de Coimbra e do Porto e apresentavam-se com frequência na Televisão.

Durante muito tempo, o conjunto de Thilo contou com a colaboração de Rueda, mas a sua substituição acabou por vir a beneficiar o conjunto com a entrada de um elemento destacado da «pop-music» em Inglaterra, onde conviveu com os Rolling Stone e com Adamo: Tony Bastos.


Thilo, entretanto, consagra-se como um dos orquestradores de sentido mais moderno que Portugal já encontrou, tendo executado a orquestração de diversas composições que representaram Portugal no Festival Eurovisão da Canção nos anos de: 1976, 1978, 1979, 1994, 1995 e 1997.

No ano de 1970 funda, conjuntamente com Vítor Mamede e Nicolau Breyner, a empresa «Edipim» de produção de conteúdos televisivos que iria durar até 2004. Em Junho de 1996 foi condecorado pelo Presidente da República.

O Compositor e Maestro defendeu sempre os valores e a música portuguesa, tendo falecido em Portimão, vítima de doença prolongada, no dia 11 de Março de 2004. 

Na Abrunheira, local dos estúdios da «Edipim» ,onde foi gravada a primeira telenovela portuguesa "Vila Faia", encontra-se uma rua com o seu nome. 

CONJUNTO THILO'S  COMBO - 1967
Da esquerda para a direita: Thilo Krassman, o baixo, o acordeonista, o homem do vibrafone e do piano;
António Igrejas de Bastos (ou simplesmente Tony Bastos) o bateria; José Luís Simões, o mago da guitarra;
Vitór Santos, saxofone, tenor e alto, flauta e clarinete; e Jorge Pinto o organista. Vocalistas: Thilo, Tony
Bastos e Jorge Pinto
Pesquisa e coordenação de diversos textos e imagens*: marr
* A principal fonte, entre outras: Revista "Plateia" de Janeiro de
   de 1967 (Colecção particular) 

sábado, 8 de junho de 2013

Jardim Zoológico de Lisboa

OS PRIMÓRDIOS DO JARDIM DE ACLIMATAÇÃO DE LISBOA

O nosso primeiro Jardim Zoológico foi instalado no formoso parque de São Sebastião da Pedreira, onde abundavam sombras aprazíveis e recantos de doce poesia. Época de curiosidade científica, o século XIX não dispensou a criação de lugares apropriados para a instalação de animais das mais variadas zonas climatéricas, nas principais cidades da Europa. A fauna do nosso Ultramar era riquíssima e ela podia fornecer à capital da Metrópole os mais belos exemplares zoológicos, para gáudio do lisboeta pacato e do estudiosos pouco viajado.

Um dos recantos do Jardim de Aclimatação. Gravura de 1888
(Colecção particular)
A quem se deveu a ideia de dar a Lisboa um jardim de aclimatação? Encontramos nomes como Pedro Adriano van der Laan, médico oftalmologista e naturalista, José Vicente Barbosa du Bocage, António Maria Barbosa, Carlos May Figueira, Manuel Bento de Sousa e José Tomás de Sousa Martins, o popular médico que tem uma estátua no Campo dos Mártires da Pátria. Foram estes os membros que constituíram o grupo promotor.

Dr. Pedro Adriano van der Laan
(Colecção particular)
Dr. José Tomás de Sousa Martins
(Colecção particular)
















No ano de 1882 realizou-se uma reunião na Escola Politécnica de Lisboa, de que resultaria em Fevereiro de 1883, a formação de uma Sociedade de Zoologia e Aclimatação de Animais e de Plantas Úteis e Ornamentais com Aquário.

Jaulas dos Símios. Gravura de 1888 (Colecção particular)

Após se ter constituído a Comissão Fundadora, o dinheiro surgiu logo, como por milagre "300 contos", dos quais 20% imediatamente realizados, quantia essa bastante elevada para a época.

Um aspecto do jardim em 1888. Gravura da época (Colecção particular)












Os proprietários do Parque de São Sebastião, Dr. José António Pinto e sua mulher, compreendendo o significado da patriótica iniciativa do Dr. van der Laan, cederam o mesmo Parque, a simples título de empréstimo gracioso.

Cerca para animais de grande porte. Gravura de 1888
(Colecção particular)















Em 5 de Junho de 1883 foi lavrada escritura e a 28 de Maio de 1884 era inaugurado o Parque de S. Sebastião da Pedreira num acto solene que contou com a presença do Rei, do seu pai, D. Fernando, do Príncipe Real D. Carlos e do Infante D. Augusto, assim como de todos os elementos do governo.

PEQUENA CRONOLOGIA :
- 1884 inauguração no Parque de São Sebastião da Pedreira
- 1894 transferência para a Palhavã, onde hoje se situa a Fundação
            Calouste Gulbenkian

Porta de acesso ao Jardim na Palhavã c.1900
(Colecção particular)
- 1905 transferência para Sete Rios, para o Parque das Laranjeiras,
           onde se encontra actualmente. 

Torres e portões de entrada. Postal ilustrado c.1908 (Colecção particular)



As mesmas torres vista do interior do Jardim. Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Jaulas das feras (grandes mamíferos) Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Grandes gaiolas para aves exóticas e trepadoras. Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Cerca para aves de grande porte e aquáticas. Postal ilustrado c.1908
(colecção particular)



Pavilhão dos répteis. Postal Ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Cerca para aves de médio porte. Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)
Texto e ilustrações :marr


domingo, 2 de junho de 2013

D. Maria Pia 1847- 1911

(Entrevista com a Marquesa de Unhão)


D. Maria Pia (


D. Maria Pia, nasceu em Turim, na Itália, no dia 16 de Outubro de 1847, era filha do então Príncipe Vítor Manuel de Piemonte, que dois anos depois (1849) foi aclamado Rei de Sardenha,e, em 1867 Rei de Itália, e de sua esposa a Arquiduquesa Maria Adelaide.


Tendo a Princesa Maria Pia ficado órfã de mãe aos sete anos de idade, a sua educação ficou a cargo da Condessa de Vila Marina. Foi pedida, em casamento, pelo Visconde da Carreira como enviado português a Turim, para D. Luís I, quando tinha catorze anos;  o contrato matrimonial foi assinado a 8 de Agosto de 1861.  Efectuou-se o enlace por procuração, em Turim a 27 de Novembro de 1862, tendo embarcado a Princesa no dia 29 na corveta Bartolomeu Dias. Assim que o navio fundeou, frente a Belém, foram logo a bordo o Rei D. Luís, seu pai D. Fernando, o Conselho de Estado, o Ministério, etc. D. Maria Pia permaneceu na corveta até ao dia seguinte, indo então desembarcar no Caís das Colunas. 

No Terreiro do Paço foi construído um sumptuoso pavilhão onde recebeu os cumprimentos de boas-vindas. O casamento foi ratificado na Igreja de São Domingos no dia 6 de Outubro, seguindo-se, na cidade, três dias de festa com embandeiramento nas ruas, luminárias, fogos-de-artifício, paradas militares, recepções no Paço, etc.

Do casamento houve dois filhos: D. Carlos (depois D. Carlos I) e D. Afonso Henriques (Duque do Porto).
D. Maria Pia com o seu filho Príncipe D. Carlos,
depois Rei de Portugal e vítima do atentado no
Terreiro do Paço   (Colecção particular)
D. Maria Pia conservou-se sempre alheia aos acontecimentos políticos durante o reinado de seu marido, D. Luís. Só quando o Marechal Saldanha se revoltou, para derrubar o gabinete do Duque de Loulé (1879) que cercou com a artilharia o palácio da Ajuda, onde a família real residia; o marechal parlamentava então com o Rei, quando, de súbito, apareceu D. Maria Pia que, altiva, lhe declarou: - «Se fosse eu o Rei, mandava-o fuzilar!».

Mais tarde, a 2 de Outubro de 1873, achando-se a banhos em Cascais, e tendo ido passear com os seus filhos ao longo da costa, até um local chamado Mexilhoeiro, correu grande perigo a sua existência. Vendo uma onda arrebatar os Príncipes, a heróica Rainha lançou-se imediatamente ao mar para os salvar, e seria irremediavelmente vítima da sua dedicação maternal, se não viesse em seu auxílio e dos Príncipes o ajudante do faroleiro da Guia, António de Almeida Neves, que conseguiu arrastar para terra a Rainha e os sues filhos.

D. Maria Pia, embora considerada a mais faustosa rainha da Europa, distribuía muitas gratificações e donativos aos que a serviam. Era muito esmoler, por isso, o povo a cognominou de "Anjo da Caridade". Em diversas catástrofes, que assolaram o País, era a primeira a deslocar-se para socorrer, materialmente, os sinistrados. Tal foi o que aconteceu no Inverno de 1876 e por ocasião do incêndio do Teatro Baquet no Porto em 1888, embarcando logo para a cidade Invicta, apesar do temporal que fustigava a costa marítima, a fim de levar socorros às famílias das vítimas e aos pobres dos bairros. Quando da fome do Ceará, no Brasil, também para ali enviou socorros vultuosos. Por isso era muito estimada pelo povo. Se ela, às vezes, passeava com D. Luís, nas ruas de Lisboa, os transeuntes ao reconhece-los aplaudiam e festejavam espontaneamente os soberanos.


D. Maria Pia
(Palácio da Ajuda , 1880)

Visitou diversas vezes a Itália e outros países da Europa. "Era ela a Rainha por excelência - relata-nos Eduardo de Noronha - nas Tulherias, ao lado da formosíssima Imperatriz Eugénia; em Windsor Castle, recebida pela respeitada e poderosa Rainha Vitória, soberana da Grã-Bretanha; festejada no Palácio do Oriente em Madrid, pela impetuosa Isabel II; hospedada, não importa por que grande potentado era ela a Rainha. Sabia-o ser!".

No ano de 1877, foi inaugurado, no Porto,a ponte metálica do caminho de ferro, que recebeu o seu nome. Fundou em 1878, na Tapada da Ajuda, a creche Vítor Manuel. Durante o reinado do seu filho, D. Carlos, D. Maria Pia manteve a sua atitude alheia à política.

Dando-se o regicídio, a sexagenária D. Maria Pia sofreu tão grande abalo que se lhe alteraram as faculdades mentais. Chegava ao ponto de regar as carpetes, onde julgava ver flores salpicadas pelo sangue do seu filho e do seu querido neto.

Ao embarcar na Ericeira e ao abandonar o País onde entrara precisamente quarenta e oito anos antes, como noiva feliz e Rainha adorada, a razão fugazmente desperta-lhe fez compreender o que se passava e recusa-se a embarcar e a deixar Portugal, que amara como sua verdadeira Pátria. O iate Amélia que conduzia a Família Real para o exílio aportou a Gibraltar  e daí partiu D. Maria Pia para Itália, num cruzador italiano que propositadamente a foi buscar.
D. Maria Pia com o seu irmão o rei Humberto de Itália,vítima de
atentado de Monza, no mesmo grupo vêem-se a rainha Marga-
rida, o rei (actual) de Itália Vítor Emanuele, o Príncipe D. Carlos
e o Infante D. Afonso (Colecção particular)

Indo habitar no Castelo de Stupinigi, com a sua irmã Clotilde, que adorava, faleceu esta pouco depois da sua chegada. A saúde abalada de D. Maria Pia não suportou mais este golpe... mais esta morte... e a filha de Vítor Manuel faleceu a 5 de Julho de 1911. O seu cadáver foi transportado para Superga, onde ficou depositado no Panteão da Família Real Italiana.


Na Revista "ABC" de 2 de Fevereiro de 1922, o jornalista João D'Alpains fez uma entrevista à Sr.ª Marquesa de Unhão, a última Dama da Rainha D. Maria Pia, de que passo a transcrever algumas passagens mais significativas:

" No sue pequeno palácio da Rua da Vinha, a Sr.ª Marquesa de Unhão, que foi íntima da casa Real e que foi a última Dama da Rainha Senhora Dona Maria Pia, acede receber-nos, quando seu costume era não falar a jornalistas em coisas do passado, aquele passado que é na sua vida a maior saudade."


D. Maria Pia com o seu neto, o Príncipe D. Luís Filipe,
vítima do atentado no terreiro do Paço (Colecção particular)
" Olhamos distraidamente uma fotografia que está junto de nós. S. M. a Rainha-Mãe e o Príncipe D. Luís Filipe, tendo apenas meses de idade. A expressão daquela criança enche-nos de tristeza. Ele está a sorrir, descuidado, ainda inconsciente, ainda sem pensar... naquela idade os homens deviam-lhe ser diferentes, diferentes daqueles, que, numa trágica tarde o derrubaram a tiro - ele era bom e tinha grande paixão pela sua terra. Noutro quadro, El-Rei D. Carlos, vestindo de caçador. Expressão sem ódio, expressão feliz, julgando bem todas as pessoas que o rodeavam, que privavam com ele.""

-"A revolução apanhou-me em Sintra - revela a Sr.ª Marquesa de Unhão - S. M. a Rainha D. Maria Pia vivia muito adoentada nos últimos tempos; não recebia ninguém, a não ser pessoas que estavam de serviço. Sofria de uma grande tristeza, desde o assassinato do Rei e do Príncipe. Ela adorava o Príncipe. Começou a miná-la uma tristeza enorme, muitas vezes não queria ver ninguém, viviam mais consigo, acompanhava-a sempre a sua nostalgia. Sua Majestade era uma pessoa muito nervosa, irrequieta. Antigamente, não; vivia, sempre alegre, imensamente inteligente, era o desejo maior de todos que a rodeavam. Naquele dia da revolução, quando disseram para fugir, S. M. revoltou-se, que não fugiria, que antes tomaria o caminho de Lisboa. S. M. nunca sentiu medo. Ela sabia que o lugar do Rei era nos lugares de perigo e queria estar mais perto, mais junto dele."

D. Maria Pia com o seu neto, o Príncipe D. Luís
 Filipe, assassinado no Terreiro do paço em 1-2-1908
(Colecção particular)

-"Quando chegámos a Mafra ainda S. M. quis voltar para Lisboa.
Era Lisboa que ela desejava; nós não devíamos ter abandonado Lisboa; quase todos os boatos eram falsos e depois restava-nos o País inteiro. Sá a bordo é que soubemos que não íamos para o Porto! Sempre julgámos que, embarcando em Mafra, seguiríamos para o norte de Portugal! Não fizemos bagagem, S. M. tinha uma mala de mão, coisas mais necessária e eu, outra. Nenhuma das Senhoras Rainhas de Portugal desejava sair; custou-lhe muito a dar esse passo. Muito! A bordo  todos tinham a certeza que aquela retirada era por pouco tempo,  que nos chamariam logo. S. M. a Rainha Maria Pia tinha sempre a impressão que a estavam a chamar - que voltaria em breve. Nunca julgou morrer no seu exílio, longe de Portugal que Ela tanto amou"

-"Vivia cheia de saudades e recordava-se de tudo, pensava em tudo. Mais tarde , pedi um mês de licença, pretendia voltar a Portugal para tratar de questões particulares. Não estando em minha casa, perguntei a S. M. se deveria trazer as malas para Lisboa. S. M. disse-me que sim e depois chamou-me. «É melhor lavá-las, porque assim como nos expulsaram rapidamente podem chamar-nos».


-"Não assistiu, Sr.ª Marquesa, à morte de S. M.?"

-"Não! Estava em Portugal. Tive imenso desgosto. Se tivesse adivinhado..."

A Senhora Marquesa, antes de se retirar tem mais uma frase:

-"S. M. nunca se meteu na política. Foi mau! A Rainha-Mãe tinha perfeita noção de todos os problemas e conhecia as pessoas. Adivinhava se elas valiam ou não, pela expressão do seu rosto..."


Colecção particular
Coordenação de textos e ilustrações: marr