Tem igualmente este "blog", como um dos seus objectivos, recordar e fazer avivar figuras que fizeram parte do nosso património cultural e que hoje estão totalmente esquecidas, por todos nós, ou trazê-las ao conhecimento das actuais gerações.
Prestamos assim, embora tardiamente, homenagem a todas essas personalidades que, de um ou de outro modo, se destacaram no seu tempo dentro das suas actividades profissionais.
marr
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Lourenço Marques - Moçambique c.1967 (Colecção particular) |
Recordar "Pepito" não o fará voltar ao nossos convívio, contudo é obrigação de, pelo menos duas gerações, o recordarem em Lourenço Marques, Moçambique.
Delfim de Oliveira Rodrigues foi seu colega, fez dupla com "Pepito" e ambos fizeram rir milhares de pessoas, concedeu uma entrevista em 1971, onde nomeadamente afirmou:
«Falar sobre a vida de José Pereira da Silva Júnior, o conhecido palhaço "Pepito", seria um livro bastante volumoso, mesmo só falando daqui, de Moçambique, onde se radicou. Para aqui veio por alturas de 1942, na Companhia do falecido Octávio de Matos, quando esse artista veio a esta cidade, como ilusionista, apresentar o grande espectáculo "Ling-Chong".
Desligou-se da Companhia aqui se fixou e se casou, tendo-lhe nascido um casal. A filha, a então conhecida "Belita", que bastantes vezes actuou em conjunto connosco, era uma artista que, embora ensinada só pelo pai, chegou a ser bastante admirada e elogiada por outros artistas estrangeiros que tinham ocasião de nos ver trabalhar.
Só com o rodar dos anos me associei a "Pepito", pois anteriormente ele fazia parceria com outro rapaz que, devido aos seus inúmeros deveres profissionais, o teve que largar. Associei-me a ele, como disse, até à data do seu falecimento, ocorrido na tarde de 28 de Julho de 1967.
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"Pepito" (ao meio) numa avenida de Lourenço Marques - Moçambique (In: Plateia (Colecção particular) |
Só de lamentar que um artista como foi este, consciencioso da sua profissão e muitíssimo meticuloso no que gostava de apresentar ao público, mesmo com prejuízo pessoal - pois que só da arte viveu no rodar desses anos todos - é de lamentar que nunca lhe pagassem o que merecia. Apenas uns míseros "cachets" surgiam daqui ou dali (e sempre discutidos!).
É de lamentar que um artista como foi este colega, que sempre acedia a convites para este ou aquele espectáculo, trabalhasse em toda a cidade - pois viu duas gerações rirem-se das coisas que se faziam para rir, o que é mesmo muito difícil e às vezes Deus sabe como é amargo estar nos locais onde nos apresentamos - insisto, é de lamentar que toda a gente se esquecesse da pessoa que nunca sabia dizer não, a ponto de várias vezes nos aborrecermos mesmo, por aceitar certas propostas...Depois, nem ao menos obrigado nos diziam no final do "show", se queríamos um refresco, era do nosso bolso que saía o pagamento...
No entanto tudo já passou... menos o nome do artista que faleceu a 28 de Julho de 1967!
Agora pergunto eu:
- O que há e em que lugar se fez, o que quer que fosse que recorde um amigo dessas gerações, hoje papás, mamãs e até avós, para que possam dizer aos seus quem foi aquele homem que tanto os divertiu?
Houve uma subscrição pública, para se mandar fazer um busto dele e colocá-lo no Parque Infantil do Jardim Zoológico de Lourenço Marques, a perpetuar aquele que fez rir e divertir muita gente.
Mas em que ficou tudo isso? Onde estão os resultados? Chegou ou não para o fim em vista? Ninguém sabe...
É de lamentar que nem ao menos a sua fria campa se encontre arranjada. Quem passe pelo cemitério e queira saber onde é o seu leito eterno, para assim nele colocar algumas flores e mesmo em silêncio rezar por ele, tem de se dirigir ao encarregado, pois que é um montinho de terra que para ali está. E nada mais justifica a presença daquele que também ajudou Lourenço Marques, a terra que tanto o fascinou a ficar por cá...e onde ficou afinal para todo o sempre!»
In: "Plateia" de Agosto de 1971 (colecção particular)
Coordenação do texto: marr