sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Camisaria Moderna

Quem não se recorda da surpresa que constituía, para muitos, o cenário da Camisaria Moderna? A tal que vendia as célebres camisas que "não fazem pregas no peito nem rugas no colarinho". Era precisamente no interior da loja, no salão de atendimento ao público que existia um original viveiro de aves... o seu proprietário, o Sr. António Regojo Rodriguez,  justificava este viveiro do seguinte modo:
Aspecto do interior da Camisaria Moderna com as aves à solta




O Sr. António Regojo Rodri-
guez, proprietário da
Camisaria Moderna
- " Há aproximadamente um ano (1952) que um pintassilgo ferido procurou refúgio no meu estabelecimento. Sentiu-se bem e decidiu ficar e a docilidade da sua permanência fez-me pensar na possibilidade de manter um viveiro de pássaros em liberdade no interior da minha loja. E o que pensei aconteceu... claro que não os soltei aqui dentro todos de uma só vez!"

"Primeiramente, a medo, soltei meia dúzia. verificando que, conquanto existisse natural perturbação, as aves não tentavam fugir e isso animou-me a, progressivamente, ir aumentando o seu número. E acabei por ficar com cinquenta! Mandei construir bebedouros, baloiços, poleiros e uma pequena árvore, não lhes faltando com nada para o seu bem-estar."


"Fugirem? Como a porta se encontra num plano inferior ao dos poleiros, calculei não ser muito fácil que tal acontecesse, pelo menos nos primeiros tempos encontra-la, e, quando conheceram o caminho da porta, curiosamente lembravam-se dela para regressarem... evidentemente que os meus pássaros não desdenham uns passeiozitos pelo mundo dos outros mas... voltam sempre depois."
Bebedouros, poleiros, baloiços e até uma pequena árvore...

O Sr. Regojo, sorrindo, acrescentava ainda:

-"Fiz com os meus alegres pensionistas um contrato simbólico. Dou-lhes casa e mesa para que me dêem uma nota colorida ao ambiente com uma condição expressa. Que não me "desconsiderem" os clientes e, até hoje, têm cumprido a promessa..."

Aqui as aves vivem felizes num ambiente de que já não se podem afastar























As avezitas voando de um lado para o outro...

Das muitas vezes que lá fui com os meus pais, ainda criança, lembro-me perfeitamente das avezitas, escolhidas entre os de mais belas e variadas cores, a chilrearem alegremente, voando de um lado para o outro; e sempre que ia à Baixa, lá corria eu para ir espreitar os passarinhos da loja do Sr. Regojo! Bons tempos aqueles...





In: Século Ilustrado de Dezembro de 1953 (colecção particular)
Coordenação da entrevista e das fotos: marr


quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Fábrica de Lâmpadas Lumiar - Foi Notícia em Setembro de 1933...

A LUMINOSA REALIDADE 
DAS 
LÂMPADAS LUMIAR

Colocação de suportes e montagem do filamento


A Empresa Nacional de Aparelhagem Eléctrica inaugurou há dias, oficialmente, a sua fábrica de lâmpadas eléctricas «LUMIAR». Finalmente possuímos já uma fábrica de lâmpadas eléctricas, justa aspiração de tantos anos.

Uma nova indústria surge e vem uma vez mais demonstrar que Portugal caminha, para a sua equiparação aos grandes países.

Secção de fotometria

O edifício em questão ocupa a área de 5000m2, em 3 amplos andares, 110 operários, espalhados por diversas secções apetrechadas com a mais moderna maquinaria, fabricam sob o mais rigoroso controlo e processos científicos perfeitíssimos milhares de lâmpadas em todos os tipo usuais para todas as potencias.
Máquina de corte do gargalo das ampôlas

A capacidade fabril actual, é de 8000 lâmpadas diárias. O cristal é ali produzido, o que sucede em muito poucas fábricas congéneres, em fornos aquecidos a óleos pesados, merecendo especial referência o perfeito processo de moldes mecânicos onde é moldada a ampola - uma inovação no nosso País. Toda a lâmpada «LUMIAR» é inteiramente fabricada ali, excepção feita ao filamento e casquilho.
Os potes de fecho e de enchimento

Todas as secções requerem do pessoal extrema precisão e atento cuidado, sendo de justiça, pôr em relevo a admirável adaptação do operariado, que duma forma rápida executa as diversas operações - algumas de extrema delicadeza - com o maior desembaraço.

Fabrico do pé das lâmpadas
A lâmpada «LUMIAR» rivaliza com as melhores congéneres estrangeiras, e para que a nossa preferência lhe seja dada, impondo-se à admiração de todos, está também o nosso carinho por tudo quanto é nosso, tudo quanto é português.



Preferir a lâmpada «LUMIAR» é além duma justiça recta, combater o snobismo irritante da preferência pelos produtos estrangeiros.

In: Notícias Ilustrado de Setembro de 1933 (Colecção particular)
Coordenação do texto e das fotos: marr

quarta-feira, 18 de setembro de 2013

Moçambique - "Pepito" - Um palhaço esquecido

Tem igualmente este "blog", como um dos seus objectivos, recordar e fazer avivar figuras que fizeram parte do nosso património cultural e que hoje estão totalmente esquecidas, por todos nós, ou trazê-las ao conhecimento das actuais gerações.

Prestamos assim, embora tardiamente, homenagem a todas essas personalidades que, de um ou de outro modo, se destacaram no seu tempo dentro das suas actividades profissionais.
marr

Lourenço Marques - Moçambique c.1967
(Colecção particular)


Recordar "Pepito" não o fará voltar ao nossos convívio, contudo é obrigação de, pelo menos duas gerações, o recordarem em Lourenço Marques, Moçambique.

Delfim de Oliveira Rodrigues foi seu colega, fez dupla com "Pepito" e ambos fizeram rir milhares de pessoas, concedeu uma entrevista em 1971, onde nomeadamente afirmou:

«Falar sobre a vida de José Pereira da Silva Júnior, o conhecido palhaço "Pepito", seria um livro bastante volumoso, mesmo só falando daqui, de Moçambique, onde se radicou. Para aqui veio por alturas de 1942, na Companhia do falecido Octávio de Matos, quando esse artista veio a esta cidade, como ilusionista, apresentar o grande espectáculo "Ling-Chong".

Desligou-se da Companhia aqui se fixou e se casou, tendo-lhe nascido um casal. A filha, a então conhecida "Belita", que bastantes vezes actuou em conjunto connosco, era uma artista que, embora ensinada só pelo pai, chegou a ser bastante admirada e elogiada por outros artistas estrangeiros que tinham ocasião de nos ver trabalhar.

Só com o rodar dos anos me associei a "Pepito", pois anteriormente ele fazia parceria com outro rapaz que, devido aos seus inúmeros deveres profissionais, o teve que largar. Associei-me a ele, como disse, até à data do seu falecimento, ocorrido na tarde de 28 de Julho de 1967.

"Pepito" (ao meio) numa avenida de Lourenço Marques - Moçambique
(In: Plateia (Colecção particular)

Só de lamentar que um artista como foi este, consciencioso da sua profissão e muitíssimo meticuloso no que gostava de apresentar ao público, mesmo com prejuízo pessoal - pois que só da arte viveu no rodar desses anos todos - é de lamentar que nunca lhe pagassem o que merecia. Apenas uns míseros "cachets" surgiam daqui ou dali (e sempre discutidos!).

É de lamentar que um artista como foi este colega, que sempre acedia a convites para este ou aquele espectáculo, trabalhasse em toda a cidade - pois viu duas gerações rirem-se das coisas que se faziam para rir, o que é mesmo muito difícil e às vezes Deus sabe como é amargo estar nos locais onde nos apresentamos - insisto, é de lamentar que toda a gente se esquecesse da pessoa que nunca sabia dizer não, a ponto de várias vezes nos aborrecermos mesmo, por aceitar certas propostas...Depois, nem ao menos obrigado nos diziam no final do "show", se queríamos um refresco, era do nosso bolso que saía o pagamento...

No entanto tudo já passou... menos o nome do artista que faleceu a 28 de Julho de 1967!

Agora pergunto eu:
- O que há e em que lugar se fez, o que quer que fosse que recorde um amigo dessas gerações, hoje papás, mamãs e até avós, para que possam dizer aos seus quem foi aquele homem que tanto os divertiu?

Houve uma subscrição pública, para se mandar fazer um busto dele e colocá-lo no Parque Infantil do Jardim Zoológico de Lourenço Marques, a perpetuar aquele que fez rir e divertir muita gente.

Mas em que ficou tudo isso? Onde estão os resultados? Chegou ou não para o fim em vista? Ninguém sabe...

É de lamentar que nem ao menos a sua fria campa se encontre arranjada. Quem passe pelo cemitério e queira saber onde é o seu leito eterno, para assim nele colocar algumas flores e mesmo em silêncio rezar por ele, tem de se dirigir ao encarregado, pois que é um montinho de terra que para ali está. E nada mais justifica a presença daquele que também ajudou Lourenço Marques, a terra que tanto o fascinou a ficar por cá...e onde ficou afinal para todo o sempre!»

In: "Plateia" de Agosto de 1971 (colecção particular)
Coordenação do texto: marr

domingo, 1 de setembro de 2013

Recordações das nossas praias...

OS NEGOCIANTES
DA
PRAIA
O sorvete caseiro (Colecção particular)

O fotografo "à lá minute"
(Colecção particular)
Nas praias, enquanto se tomam banhos de mar e de sol, e se exibe naturalmente os sorrisos e a plástica, havia e há pessoas que, sob o mesmo sol abrasador, faziam e fazem o seu negócio tirando, do veraneio dos outros, o máximo proveito

Os comerciantes da praia, faziam já parte da família, que se acomodava, todo o dia, sob um minúsculo toldo, muito convencida de que estava protegida do sol. Todos os conheciam. Olhavam-nos, as crianças com carinho e desejo, as mulheres com curiosidade, e os homens com terror - porque eram eles que geralmente pagavam...


O "barquilheiro" (Colecção particular)


O "barquilheiro" era o croupier da praia. e até alguns adultos, velhos frequentadores de batotas que fecharam, experimentavam  com cinco tostões, a sua sorte de momento...

E as mulheres dos sorvetes, os fotógrafos ambulantes, o rapaz das sanduiches, o vendedor dos bolos, todos faziam negócio.






Sandes embrulhadas e higiénicas
(Colecção particular)




O único inimigo destes negociantes das praias, era o fato de banho. É que ele raramente tinha algibeiras, o que ocasionava que muita gente não comprasse... por não ter o dinheiro ali à mão...









Bolos e pãozinhos com chouriço
(Colecção particular)



Mesmo assim, era um belo negócio o destes comerciantes modestos, porque nesse tempo não pagavam licença de porta aberta, não existia a "ASAE", os clientes não contraiam doenças nem alergias por falta de higiene e afins, tudo estava "dentro do prazo" o organismo criava as suas auto-defesas. E já a os nossos avós afirmavam:
- «o que não mata, engorda!» 

Bons tempos aqueles...





Texto e ilustrações: marr

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Foi notícia em Dezembro de 1964...

O MELHOR POLÍCIA SINALEIRO DE LISBOA

Colecção particular


Colecção particular
Toda a gente o conhecia. Geralmente encontrava-se no cruzamento da Rua Tomás Ribeiro com a a Avenida Fontes Pereira de Melo. Tornou-se numa figura popular devido ao seu estilo e gestos próprios de um perfeito profissional. Era um verdadeiro espectáculo poder observa-lo a orientar o tráfego  gestos e passo elegantes, quando ele entrava de serviço os "engarrafamentos de trânsito" terminavam... tudo fluía naturalmente, tudo se movimentava ao seu redor, e ele ali no meio do cruzamento não parava, era realmente extraordinário! E sempre que passava de carro e o cumprimentava, ele fazia a continência sorrindo...

Colecção particular

Chamava-se Júlio Serra Inácio: "é sinaleiro há meia dúzia de anos, (escreve o repórter) metade de Lisboa o vê todos os dias. Muitos cumprimentam-no. Ele retribui com a continência característica, acompanhada de um sorriso largo, sem interromper os seus gestos de comando."

Colecção particular
"O Sr. Serras Inácio também é automobilista e, como não podia deixar de ser, peão. Por isso conhece bem os problemas de cada um destes grupos e, como era de prever, atribui culpas a todos, igualmente divididas, que é para nenhum se salientar."

Adicionar legenda
"O sinaleiro está condicionado por várias circunstância, o automobilista tem sempre demasiada pressa e o peão muito de inconsciência. Diz ele. «Torna-se urgente que todos se compenetrem dos seus deveres. O que conduz tem de respeitar a prioridade do peão nas passadeiras e este tem de se convencer a atravessar unicamente por ela e não por qualquer lado, consoante lhe apetecer...»"

Coordenação: marr

terça-feira, 13 de agosto de 2013

O Grande Café Nacional em Lisboa

Teve que se fazer uma grande remodelação da antiga loja, demolindo a sobre-loja e engrandecendo o espaço até à máxima ampliação, para assim nascer o Grande Café Nacional, na Rua 1.º de Dezembro, esquina sul da Calçada do Carmo.

Esquina da Rua 1.º de Dezembro com a Calçado do Carmo
(colecção particular)

Mas damos a palavra aos jornalistas da época, 1924:
" nas paredes predominam os arcos e este partido majestoso foi adoptado também nas entradas, que tem portas duplas e que são igualmente arcos envolvidos. Os das paredes são interrompidos por "seguintes", que se desenvolvem em toda a extensão e seguimento parietal. Não há, pois, monotonia de linhas: Dá-se o contraste das curvas dos arcos com a composição das rectas do tecto, o qual fica a sete metros do chão"

"Toda a modulação decorativa - motivada em cardos e em folhas de carvalho - tem uma patine bronzeada e a estrutura geral do tecto, continente dessa decoração, é sustida por dois pilares e mísulas que ostentam escudos das principais cidades portuguesas. Os fundos das paredes são revestidos por painéis de azulejo, emoldurados nos referidos arcos envolvidos e encimados por "cartouches" decoradas com esferas armilares - insígnias dos estilos nacionais. Esses painéis, a azul e branco, devem-se à arte de Jorge Colaço e são em número de oito, representando Trás-os-Montes, por um pelourinho dos mais nobremente antigos; o Minho pelo castelo de Guimarães; o Douro, por um trecho do rio sob a ponte D. Maria Pia; a Beira Alta, pelo parque do Fontelo; a Beira Baixa por um pedaço da grande lagoa da Serra da Estrela; a Estremadura, por um fundo azul do Tejo em que se ergue a Torre de Belém; o Alentejo, pelo templo de Diana e o Algarve pelo promontório de Sagres."

Interior do café com o respectivo pessoal
(Colecção particular)














" A parte inferior das paredes é forrada por um lambri de mármore brunido, de um belo tom castanho claro, esculpido em cordame náutico. Os tons da pintura foram escolhidos entre os claros - alaranjado e lilás - o que aproveita a máxima reflexão de luz e harmoniza perfeitamente com o azul e branco dos azulejos. A iluminação nocturna é constituída por 22 "plafonniers" e 8 candeeiros triplos. Colocados nas pilastras, sob as mísulas."

Outro aspecto do majestoso Nacional
(Colecção particular)

"As fachadas do café,  são todas de pedra branca. A que olha para a Rua 1.º de Dezembro tem sobre as partes reentrantes os escudos citadinos de Lisboa e Porto, em magníficos relevos. É rasgada por três portas monumentais, com arcos duplos envolvidos. A que dá para a Calçada do Carmo tem esculpido o escudo de Coimbra e é rasgada por dois janelões emoldurados igualmente em arcos envolvidos. Tanto as portas como os janelões são em ferro forjado, trabalhado artisticamente, com "panneaux" de vitrais e com rosáceas que abrem, estabelecendo uma franquíssima e sempre renovada ventilação. A cor dominante dos vitrais é o amarelo- dourado que, com detalhes de azul e de vermelho, dá um equilíbrio suavíssimo à forte luz do ambiente."

"No cimo exterior da esquina vai colocar-se brevemente um candelabro artístico em bronze, de quatro faces envidraçadas de arestas chanfradas e decorado com motivos iguais aos da ornamentação interior". (1)

Arquitecto Deolindo Vieira
(Colecção particular)
Toda esta obra artística deve-se ao Arquitecto Deolindo Vieira que foi coadjuvado pelo Mestre de construção civil António de Carvalho.

O Grande Café Nacional foi destinado, nessa altura, a ser um estabelecimento aparte do seu género, sendo frequentado por senhoras e grupos familiares que ali iam ouvir o quarteto musical que foi organizado pelo professor José Henriques dos Santos e todos os dias, à tarde e à noite, executavam diversos programas de concerto.

Em toda a extensão do estabelecimento foi cavado um amplo subterrâneo que funcionava como cervejaria e que além da comunicação interior, tinha outra particular pela Calçada do Carmo. 

O salão de Bilhares, que também era pertença do Grande Café Nacional, encontrava-se num grande espaço, no prédio contíguo, que tinha os números 47 a 53 da Rua 1.º de Dezembro.

(1) Aonde terão ido para os painéis de azulejos e a restante decoração?

Coordenação do texto e imagens: marr

domingo, 30 de junho de 2013

Real Fábrica das Sedas

Real Fábrica das Sedas, situada no início da Rua da Escola Politécnica em Lisboa
(Colecção particular)
A indústria da seda não foi certamente desconhecida em Portugal desde o início da nacionalidade, tanto mais que os muçulmanos tinham desenvolvido este sector têxtil, chegando a ser famosas as sedas do reino de Granada, exportadas para o nosso País. No entanto, sendo fora de dúvida que a nossa confecção de tecidos de seda foi um facto, não tendo atingido durante a Idade Média - e mesmo depois - uma importância comparável à do têxtil do linho e dos lanifícios. A produção, tecelagem e fabrico de diversos artigos de seda foi, tanto na época medieval como no período posterior ao século XV, uma actividade muito limitada e dispersa, tendo provavelmente na região de Bragança um dos seus centros principais.
Torno de torcedura. Gravura do século XVIII (Colecção particular)










No século XVIII, o Rei D. João V, por força do Alvará de 25 de Fevereiro de 1734 concede permissão, ao mestre tecelão francês Robert Godin, para o estabelecimento de um edifício para se fabricar diversos artefactos de seda (gorgolões, brocáreis, meias, galões, etc.). A autorização foi dada debaixo de vinte e três condições lavradas no Livro dos Contractos das Manufacturas do Reino.
Filatório. Gravura do século XVIII (Colecção particular)









Optou-se, então, pela construção de um edifício adequado aos diversos fabricos, centralizador da produção, no então subúrbio do Rato. Durante o período de 1734/1750, que foi liderado pela iniciativa privada, implantaram-se os primeiros noventa e um teares e organizou-se a manufactura e os diversos lavores da sua produção.

O falecimento do Rei D. João V, em 1750, e a sucessão de D. José I cria condições muito favoráveis à venda da Fábrica do Rato ao Estado, negócio proposto por Godin, que em parte era de seu interesse, dada a péssima administração porque passava a manufactura. Inicia-se, então, um período caracterizado pela administração por conta de Vasco Lourenço Velloso, em que a Fábrica das Sedas é pertença da Fazenda Real.
Filatório. Gravura do século XVIII (Colecção particular)










O Marquês de Pombal protegeu também esta indústria, e entre outras providências registam-se os regulamentos, privilégios e a instituição da Direcção Geral das Fábricas de Seda, graças às quais as regiões sercícolas lograram então pleno desenvolvimento. Trás-os-Montes, região sercícola por excelência, foi dotada com uma fábrica em Chacim e os filatórios em Lebução, Sanfins, Valpaços, Vilarelhos, etc.

Colecção particular
Colecção particular














Sebastião José de Carvalho e Melo, mandou imprimir e publicar os Estatutos da Real Fábrica das Sedas, estabelecida no subúrbio do Rato, como já tinha sido dito, com a data de 6 de Agosto de 1757, que é caracterizado pela criação de uma direcção administrativa por conta da Junta do Comércio, a quem competia eleger quatro directores, perfazendo a publicação dos Estatutos no próximo mês de Agosto 256 anos.
Edifício da Real Fábrica das Sedas em Lisboa na actualidade(Colecção particular)
Pesquisa,coordenação de diversos textos e ilustrações. marr 

sábado, 15 de junho de 2013

Foi notícia em Novembro de 1881...

O NOVO MINISTÉRIO PORTUGUÊS: António Maria Fontes Pereira de Melo; António de
Serpa Pimentel; José de Melo Gouveia; Tomás Ribeiro; Júlio Marques de Vilhena  e
Ernesto Rodolfo Hintze Ribeiro (Colecção particular)

In: "O Ocidente" n.º 165 de 21 de Novembro de 1881 (Colecção particular)
Pesquisa: marr 

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Thilo Krassman

PEQUENO APONTAMENTO BIOGRÁFICO EM FORMA DE HOMENAGEM


George Thilo Krassman, natural de Bremen na Alemanha, nasceu no dia 16 de Abril de 1933, tinha dez anos quando a guerra desencadeada pelo seu País começou a afligir verdadeiramente toda a população alemã. Frequentou durante o ano de 1944 nada menos do que oito escolas, os professores partiam a reforçar as linhas defensivas, e os edifícios iam sofrendo uma destruição implacável com os bombardeamentos constantes.

Filho de um professor de música, Thilo viveu então aos cuidados de uma tia, e com ela aprendeu, à falta de professores, os rudimentos da língua alemã, da história, da geografia, das ciências naturais, etc.

Já então, porém, a música dominava todas as suas preocupações. Após a capitulação e a ocupação, Thilo não quis frequentar escolas, a não ser a de música. Matriculou-se no famosos Conservatório de Acordeões Honner e aqui, sob a orientação de seu pai, galgou rapidamente a escada do êxito.

Decorria o ano de 1957, quando a fábrica Honner enviou-o a Portugal como professor de acordeão, sem saber uma única palavra de português  tendo então começado a dar aulas na casa Machado Gouveia. Os primeiros tempos correm difíceis, poucas pessoas, por essa altura, dominavam o alemão - e era impossível tentar fazer amizades sem conhecer ninguém, sem dominar o português. Thilo conhece, nessa altura, uma sua compatriota - e casa-se com ela... É uma pausa na música consentida pelo amor, mas uma pausa somente, porque, para «desenrascar» a falta de um contrabaixo, Hélder Martins chama Thilo Krassman para o seu conjunto... e com ele parte para uma temporada em Moçambique.


No regresso, em 1962, forma o seu próprio conjunto - o «Thilo's Combo» (conjunto de Thilo à inglesa...» e é chamado para inaugurar uma nova boite, a "Ronda". A partir de então, Thilo ignora o que significa descanso. Para ele, a música não acaba senão às primeiras horas da manhã, e pela tarde, quando se levanta, tem de ir tratar de discos, novos números, orquestrações, acompanhar artistas em espectáculos especiais, ou em "matinés" dançantes em Faculdades, Associações, etc.

As suas deslocações sucedem-se- Ele e o seu conjunto estiveram no Ultramar, em Marrocos e nas principais cidades do País. Marcaram presença nas Queimas das Fitas de Coimbra e do Porto e apresentavam-se com frequência na Televisão.

Durante muito tempo, o conjunto de Thilo contou com a colaboração de Rueda, mas a sua substituição acabou por vir a beneficiar o conjunto com a entrada de um elemento destacado da «pop-music» em Inglaterra, onde conviveu com os Rolling Stone e com Adamo: Tony Bastos.


Thilo, entretanto, consagra-se como um dos orquestradores de sentido mais moderno que Portugal já encontrou, tendo executado a orquestração de diversas composições que representaram Portugal no Festival Eurovisão da Canção nos anos de: 1976, 1978, 1979, 1994, 1995 e 1997.

No ano de 1970 funda, conjuntamente com Vítor Mamede e Nicolau Breyner, a empresa «Edipim» de produção de conteúdos televisivos que iria durar até 2004. Em Junho de 1996 foi condecorado pelo Presidente da República.

O Compositor e Maestro defendeu sempre os valores e a música portuguesa, tendo falecido em Portimão, vítima de doença prolongada, no dia 11 de Março de 2004. 

Na Abrunheira, local dos estúdios da «Edipim» ,onde foi gravada a primeira telenovela portuguesa "Vila Faia", encontra-se uma rua com o seu nome. 

CONJUNTO THILO'S  COMBO - 1967
Da esquerda para a direita: Thilo Krassman, o baixo, o acordeonista, o homem do vibrafone e do piano;
António Igrejas de Bastos (ou simplesmente Tony Bastos) o bateria; José Luís Simões, o mago da guitarra;
Vitór Santos, saxofone, tenor e alto, flauta e clarinete; e Jorge Pinto o organista. Vocalistas: Thilo, Tony
Bastos e Jorge Pinto
Pesquisa e coordenação de diversos textos e imagens*: marr
* A principal fonte, entre outras: Revista "Plateia" de Janeiro de
   de 1967 (Colecção particular) 

sábado, 8 de junho de 2013

Jardim Zoológico de Lisboa

OS PRIMÓRDIOS DO JARDIM DE ACLIMATAÇÃO DE LISBOA

O nosso primeiro Jardim Zoológico foi instalado no formoso parque de São Sebastião da Pedreira, onde abundavam sombras aprazíveis e recantos de doce poesia. Época de curiosidade científica, o século XIX não dispensou a criação de lugares apropriados para a instalação de animais das mais variadas zonas climatéricas, nas principais cidades da Europa. A fauna do nosso Ultramar era riquíssima e ela podia fornecer à capital da Metrópole os mais belos exemplares zoológicos, para gáudio do lisboeta pacato e do estudiosos pouco viajado.

Um dos recantos do Jardim de Aclimatação. Gravura de 1888
(Colecção particular)
A quem se deveu a ideia de dar a Lisboa um jardim de aclimatação? Encontramos nomes como Pedro Adriano van der Laan, médico oftalmologista e naturalista, José Vicente Barbosa du Bocage, António Maria Barbosa, Carlos May Figueira, Manuel Bento de Sousa e José Tomás de Sousa Martins, o popular médico que tem uma estátua no Campo dos Mártires da Pátria. Foram estes os membros que constituíram o grupo promotor.

Dr. Pedro Adriano van der Laan
(Colecção particular)
Dr. José Tomás de Sousa Martins
(Colecção particular)
















No ano de 1882 realizou-se uma reunião na Escola Politécnica de Lisboa, de que resultaria em Fevereiro de 1883, a formação de uma Sociedade de Zoologia e Aclimatação de Animais e de Plantas Úteis e Ornamentais com Aquário.

Jaulas dos Símios. Gravura de 1888 (Colecção particular)

Após se ter constituído a Comissão Fundadora, o dinheiro surgiu logo, como por milagre "300 contos", dos quais 20% imediatamente realizados, quantia essa bastante elevada para a época.

Um aspecto do jardim em 1888. Gravura da época (Colecção particular)












Os proprietários do Parque de São Sebastião, Dr. José António Pinto e sua mulher, compreendendo o significado da patriótica iniciativa do Dr. van der Laan, cederam o mesmo Parque, a simples título de empréstimo gracioso.

Cerca para animais de grande porte. Gravura de 1888
(Colecção particular)















Em 5 de Junho de 1883 foi lavrada escritura e a 28 de Maio de 1884 era inaugurado o Parque de S. Sebastião da Pedreira num acto solene que contou com a presença do Rei, do seu pai, D. Fernando, do Príncipe Real D. Carlos e do Infante D. Augusto, assim como de todos os elementos do governo.

PEQUENA CRONOLOGIA :
- 1884 inauguração no Parque de São Sebastião da Pedreira
- 1894 transferência para a Palhavã, onde hoje se situa a Fundação
            Calouste Gulbenkian

Porta de acesso ao Jardim na Palhavã c.1900
(Colecção particular)
- 1905 transferência para Sete Rios, para o Parque das Laranjeiras,
           onde se encontra actualmente. 

Torres e portões de entrada. Postal ilustrado c.1908 (Colecção particular)



As mesmas torres vista do interior do Jardim. Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Jaulas das feras (grandes mamíferos) Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Grandes gaiolas para aves exóticas e trepadoras. Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Cerca para aves de grande porte e aquáticas. Postal ilustrado c.1908
(colecção particular)



Pavilhão dos répteis. Postal Ilustrado c.1908
(Colecção particular)



Cerca para aves de médio porte. Postal ilustrado c.1908
(Colecção particular)
Texto e ilustrações :marr